O mundo além dos EUA e Japão: grandes jogos nascem em todos os cantos

Por décadas, a indústria de videogames foi dominada por dois gigantes: os Estados Unidos e o Japão. De um lado, os EUA trouxeram inovações tecnológicas, narrativas cinematográficas e blockbusters como Call of Duty e The Last of Us. Do outro, o Japão encantou o mundo com sua criatividade, entregando obras-primas como The Legend of Zelda, Final Fantasy e Tremendous Mario.

Juntos, esses dois países moldaram o que entendemos por jogos eletrônicos, definindo tendências e conquistando legiões de fãs. No entanto, o cenário está mudando. Nos últimos anos, uma onda de estúdios de países antes considerados periféricos no mercado world de video games tem produzido títulos que rivalizam — e, em alguns casos, superam — as produções do mainstream.

Da Europa à Ásia, passando por mercados emergentes, grandes jogos estão nascendo em todos os cantos, desafiando a hegemonia dos EUA e reforçando a força asiática, enquanto novas comunidades de todo o mundo redefinem o futuro da indústria.

A ascensão de novos polos criativos

Embora os EUA e o Japão tenham construído impérios na indústria de jogos, a globalização, o acesso a ferramentas de desenvolvimento e o crescimento de comunidades de jogadores em todo o mundo abriram espaço para novos protagonistas.

Países como Polônia, Bélgica, Finlândia, Suécia, República Tcheca, França, Coreia do Sul e China estão não apenas participando, mas liderando com títulos que combinam inovação, profundidade narrativa e excelência técnica.

Um dos exemplos mais emblemáticos é Baldur’s Gate 3, desenvolvido pela Larian Studios, da Bélgica. Lançado em 2023, o RPG foi aclamado como um marco do immersive sim, conquistando prêmios como Jogo do Ano no The Game Awards e redefinindo os padrões de narrativa interativa e liberdade de escolha.

Baldur’s Gate 3Baldur’s Gate 3
Fonte: Larian Studios

A Larian, que já havia impressionado com a série Divinity, provou que estúdios europeus podem competir no mais alto nível, oferecendo uma experiência que vai de frente com os maiores blockbusters americanos.

Na Polônia, a CD Projekt RED consolidou seu nome com The Witcher 3: Wild Hunt e, apesar dos desafios no lançamento, Cyberpunk 2077 se tornou um fenômeno cultural após atualizações que corrigiram seus problemas iniciais.

O estúdio polonês demonstrou uma habilidade rara para criar mundos abertos imersivos, com narrativas maduras e visuais deslumbrantes — algo que colocou o país no mapa como um polo de desenvolvimento de classe mundial.

A Finlândia, por sua vez, tem se destacado com estúdios como a Housemarque, responsável por Returnal. Esse roguelike de ação, com sua atmosfera sci-fi e jogabilidade frenética, foi elogiado por sua inovação e qualidade técnica, mostrando que o país nórdico, conhecido por jogos cell como Offended Birds, também pode entregar experiências AAA para consoles.

ReturnalReturnal
Fonte: Housemarque

Na Suécia, a Hazelight lançou Split Fiction, um título que combina narrativa emocional com mecânicas criativas, reforçando a reputação do país como um celeiro de desenvolvedores independentes e estúdios de médio porte.

A Suécia já havia deixado sua marca com jogos como Battlefield (DICE) e Minecraft (Mojang), mas Break up Fiction foi além ao destacar a capacidade das mentes criativas no país de inovar em gêneros narrativos.

A República Tcheca também entrou nesse bolo com Kingdom Come: Deliverance 2, sequência do RPG histórico da Warhorse Studios. Com sua abordagem realista à Idade Média e um nível de detalhe impressionante, o jogo conquistou jogadores e críticos, mostrando que a Europa Central pode oferecer aventuras ambiciosas e únicas.

Por fim, a França tem chamado atenção com Clair Obscur: Expedition 33, desenvolvido pela Sandfall Interactive. Lançado há poucos dias, o RPG de turnos com visuais inspirados em aquarelas e uma narrativa melancólica foi descrito como uma “obra-prima absoluta” por jogadores e críticos — tudo isso por meio de uma pequena equipe formada por veteranos da Ubisoft.

O declínio relativo dos EUA?

Enquanto novos polos criativos florescem, os Estados Unidos parecem enfrentar desafios para manter sua dominância. Embora ainda sejam líderes em receita e lar de gigantes como Activision Blizzard, Electronic Arts e Rockstar Games, os EUA têm sido criticados por uma abordagem cada vez mais comercial, focada em franquias seguras e modelos de monetização agressivos, como microtransações e jogos como serviço.

Além disso, a indústria americana enfrenta questões internas, como demissões em massa e fechamento de estúdios. Em 2023 e 2024, grandes empresas como Microsoft, Unity, Electronic Arts e Epic Games anunciaram cortes significativos, afetando até equipes responsáveis por jogos premiados.

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Fonte: Digital Arts

Essa instabilidade contrasta com o crescimento de estúdios europeus, que, muitas vezes, operam com orçamentos menores, mas com maior liberdade criativa e foco em qualidade.

Isso não significa que os EUA estão fora do jogo. Jogos como God of War Ragnarök e Spider-Man 2 mostram que o país ainda produz blockbusters de alto calibre. No entanto, a percepção de que os EUA estão “jogando seguro” enquanto outros países arriscam com ideias frescas sugere que sua liderança está sendo desafiada.

Grandes jogos e a força inabalável da Ásia

Enquanto os EUA enfrentam ventos contrários, a Ásia — especialmente Japão, Coreia do Sul e China — continua a solidificar sua posição como potência nos video games. O Japão, mesmo com um mercado interno menor que o americano, mantém sua relevância world com estúdios como Nintendo, Square Enix e FromSoftware.

Em 2023, The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom e Remaining Fantasy XVI reforçaram a capacidade japonesa de entregar experiências memoráveis, enquanto Elden Ring, da FromSoftware, conquistou o mundo com sua mistura de desafio e design inovador em mundo aberto.

A Coreia do Sul, por sua vez, é uma força dominante nos jogos on-line e Esports. Títulos como League of Legends (Riot Video games, com forte influência coreana) e StarCraft II moldaram a cultura competitiva world, com jogos single-player, como Lies of P, um soulslike inspirado em Pinóquio, mostram a versatilidade do país.

Lies of PLies of P
Fonte: Neowiz

A infraestrutura de web avançada e o amplo apoio governamental à indústria de video games fazem da Coreia um modelo de inovação.

A China, líder em receita world, tem expandido sua influência com jogos como Genshin Impact, da miHoYo, que combina visuais de anime com um modelo free-to-play altamente lucrativo, e Black Myth: Wukong, da Recreation Science, um motion RPG baseado na mitologia chinesa que conquistou críticos e jogadores.

A China também aprovou mais de 1.100 jogos em 2023, sinalizando um mercado em rápida expansão, apesar das fortes regulamentações governamentais.

Mercados emergentes e o futuro dos video games

Além dos polos consolidados, mercados emergentes estão começando a brilhar. O Brasil, por exemplo, lidera o crescimento na América Latina, com um aumento de 4% na indústria de video games em 2023, superando EUA (1,2%), Japão (0,5%) e Coreia do Sul (1%).

A aquisição do estúdio Aquiris pela Epic Games, que transformou a desenvolvedora em Epic Brasil, é um sinal de que o país está atraindo atenção world.

Outros países, como Austrália (Hollow Knight, da Group Cherry) e Ucrânia (S.T.A.L.Okay.E.R. 2, da GSC Recreation World), também estão produzindo jogos que chegam a jogadores do mundo todo, mesmo enfrentando desafios como instabilidade política ou econômica.

Hollow KnightHollow Knight
Fonte: Group Cherry

Vários fatores explicam essa descentralização da indústria de video games. Primeiro, a democratização das ferramentas de desenvolvimento, como Unreal Engine e Unity, permite que estúdios menores, de qualquer canto do mundo, criem jogos de alta qualidade.

Segundo, a globalização do mercado, impulsionada por plataformas como Steam e PS Store, facilita a distribuição de jogos para públicos internacionais. Terceiro, o investimento em educação tecnológica em países como Polônia, Coreia do Sul e Alemanha está gerando uma nova geração de talentos criativos.

Além disso, a cultura gamer está mais diversa do que nunca. Jogadores de diferentes regiões buscam experiências que reflitam suas identidades e histórias, o que incentiva estúdios a explorar temas e estéticas locais.

Kingdom Come: Deliverance 2, por exemplo, mergulha na história tcheca, enquanto Black Delusion: Wukong celebra a mitologia chinesa, conectando-se com audiências globais por meio de narrativas autênticas e certificadas.

Um novo mapa da indústria de video games

O mundo dos videogames está mais plural do que nunca. Enquanto os EUA continuam sendo um gigante, sua liderança está sendo desafiada por uma variedade de novos polos criativos na Europa, Ásia e além.

O Japão e seus vizinhos asiáticos, como Coreia do Sul e China, mantêm sua força, combinando tradição e inovação para entregar jogos que cativam por histórias bem formuladas. Países como Polônia, Bélgica, Finlândia, Suécia, República Tcheca e França estão provando que grandes jogos podem nascer em qualquer canto, desde que haja talento, paixão e visão.

Essa descentralização é uma boa notícia para os jogadores. Com mais vozes e perspectivas, a indústria está produzindo experiências mais ricas e variadas, de RPGs épicos como Baldur’s Gate 3 a experimentos narrativos como Clair Obscur: Expedition 33. O futuro dos video games não pertence a um único país ou continente — ele é verdadeiramente world, e está apenas começando a mostrar seu potencial.

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