Conheça Yojimbo, filme clássico que serve como inspiração para Ghost of Yotei

Em 1961, Akira Kurosawa lançou Yojimbo, o Guarda-Costas, um marco do cinema japonês que redefiniu o gênero chanbara e inspirou por décadas incontáveis produções ao redor do mundo.

Com sua mistura de humor cínico, violência estilizada e um protagonista inesquecível, o longa-metragem não apenas consolidou Kurosawa como um dos maiores cineastas da história, mas também serviu como fonte para obras contemporâneas, incluindo Ghost of Tsushima e sua aguardada sequência, Ghost of Yotei.

Em uma recente entrevista à Selection, Jason Connell, diretor criativo da Sucker Punch, destacou que, de fato, Yojimbo deu insights para um “ponto de partida sobre como é ser uma espadachim errante”. E ao mencionar Atsu, que substituirá o Fantasma Jin Sakai, ele confirmou que o filme está “muito, mas muito” presente na mente do estúdio.

A jornada de Sanjuro: uma história de astúcia e espada

Yojimbo se passa no Japão do século XIX, em uma vila dilacerada por uma guerra entre duas facções criminosas: uma liderada por mercadores de seda, outra por traficantes de saquê. Nesse cenário, surge Sanjuro Kuwabatake, um samurai errante interpretado magistralmente por Toshiro Mifune, que foi “revivido” para dar rosto a Miyamoto Musashi, herói de Onimusha: Way of the Sword.

Com um nome improvisado a partir de um campo de amoras que observa ao chegar, Sanjuro é um ronin – um samurai sem mestre – cuja lealdade pertence apenas a si mesmo. Ele determine manipular as duas gangues, oferecendo seus serviços como guarda-costas enquanto joga uma contra a outra — algo que dá início a um ciclo de traições e violência.

Yojimbo
Fonte: Reprodução

A trama, inspirada em romances policiais de Dashiell Hammett, como Colheita Sangrenta, combina a estrutura de um noir com o espírito dos westerns americanos. Sanjuro, com seu jeito desleixado e olhar penetrante, é um anti-herói que subverte a imagem tradicional do samurai honrado.

Sua inteligência afiada e habilidade com a katana transformam a vila em um palco para suas maquinações, culminando em um confronto closing que redefine o gênero com sua intensidade e minimalismo. Kurosawa equilibra momentos de humor – como as reações caricatas dos moradores da vila – com cenas de violência crua, criando uma narrativa que é ao mesmo tempo divertida e impactante.

Um marco do chanbara

Antes de mais nada, vamos explicar o que é o gênero chanbara (ou chambara). Centrado em histórias de samurais, o estilo tem foco em combates de espada e narrativas ambientadas no Japão feudal, geralmente entre os períodos Sengoku (século XV-XVI) e Edo (século XVII-XIX). O termo vem do som onomatopaico chan-chan bara-bara, que imita o barulho das espadas colidindo.

O que faz de Yojimbo um clássico do estilo não é apenas sua história envolvente, mas a forma como Kurosawa revolucionou o cinema samurai. A fotografia de Kazuo Miyagawa, com seus contrastes de luz e sombra, captura a desolação da vila, onde o vento e a poeira parecem narrar a tensão.

Cada quadro é meticulosamente composto, com enquadramentos que influenciaram cineastas como Sergio Leone, cujo Por Um Punhado de Dólares é uma adaptação não creditada de Yojimbo.

Yojimbo
Fonte: Reprodução

A trilha sonora de Masaru Sato, com sua energia selvagem e toques satíricos, reforça o tom irreverente do filme, enquanto a sonoplastia inovadora – incluindo o som visceral de espadas cortando carne – elevou o realismo das cenas de ação.

Sanjuro, como personagem, é outro pilar do legado de Yojimbo. Diferente dos heróis idealizados de outros filmes de samurai, ele é movido por interesses próprios, com um código de honra ambíguo que o torna fascinante e bastante único.

Toshiro Mifune, colaborador frequente de Kurosawa, entrega uma efficiency que mistura carisma, sarcasmo e perigo, transformando Sanjuro em um ícone. O filme também abriu caminho para uma nova period de chanbara, com narrativas mais violentas e protagonistas complexos, influenciando o subgênero zankoku eiga (filmes cruéis) no Japão e o spaghetti western no ocidente.

Yojimbo como ponto de virada na filmografia de Kurosawa

Na vasta obra de Akira Kurosawa, que abrange 30 filmes em cinco décadas, Yojimbo ocupa um lugar especial. Lançado após obras-primas como Os Sete Samurais (1954) e A Fortaleza Escondida (1958), o filme marcou um momento de experimentação para o diretor.

Kurosawa, que já havia conquistado o mundo com Rashomon (1950), vencedor do Leão de Ouro em Veneza, usou Yojimbo para explorar um tom mais leve e satírico, sem abrir mão de sua profundidade visible e temática.

O sucesso estrondoso do filme no Japão – foi o maior faturamento de Kurosawa até então – levou à produção de Sanjuro (1962), uma sequência que mantém o personagem principal, mas adota um tom mais cômico.

Yojimbo
Fonte: Reprodução

Yojimbo também reflete a habilidade de Kurosawa em dialogar com outras culturas. Influenciado pelo cinema americano, especialmente os westerns de John Ford, o diretor criou uma obra que, por sua vez, inspirou o ocidente.

Essa troca cultural é um traço recorrente em sua filmografia, vista em adaptações de Shakespeare (Trono Manchado de Sangue e Ran) e em narrativas que transcendem fronteiras. Em Yojimbo, Kurosawa não apenas reinventou o samurai, mas também consolidou sua reputação como um cineasta common, admirado por nomes como George Lucas, Steven Spielberg e Clint Eastwood.

A inspiração em Ghost of Tsushima e Ghost of Yotei

A influência de Yojimbo ultrapassa o cinema e chega aos videogames, especialmente na série Ghost da Sucker Punch. Em Ghost of Tsushima, o impacto de Kurosawa é evidente no Modo Kurosawa, um filtro preto e branco que homenageia a estética do diretor, e nas cenas de duelos que refletem a tensão de Yojimbo.

Em Ghost of Yotei, ambientado em 1603 nas terras selvagens de Hokkaido, a protagonista Atsu enfrentará desafios que se inspiram na jornada de Sanjuro: um guerreiro solitário em um mundo hostil, onde a astúcia é tão importante quanto a espada.

Ghost of Yotei
Fonte: Reprodução

A paleta visible do filme, com seus tons terrosos e contrastes dramáticos, também deve ser vista como referência nos cenários de Yotei, especialmente nas tundras nevadas e as pradarias ao redor do Monte Yotei. Além disso, a narrativa do jogo, que explora conflitos entre facções e a luta por sobrevivência, carrega lembranças da vila dividida de Yojimbo.

Yojimbo não é apenas um filme; é um fenômeno cultural que continua a inspirar criadores em diferentes mídias. Sua história de um samurai astuto, sua estética inovadora e sua fusão de gêneros o tornam uma obra atemporal, tão relevante hoje quanto na década de 1960.

Para os fãs de Ghost of Tsushima e Ghost of Yotei, conhecer Yojimbo é mergulhar na raiz de uma experiência que combina beleza, tensão e reflexão sobre o que significa ser um guerreiro. E, nesse mapa, o filme de Kurosawa permanece como uma estrela-guia.

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